Entenda como a odontologia do sono ajuda a dormir melhor
O sono é objeto de interesse e de pesquisas há séculos. Um dos primeiros relatos de distúrbio do sono data de 300 a.C., que retrata a injeção de agulhas no abdome para evitar pausas respiratórias no sono de Dionísio, então governante de Heracleia, onde hoje se situa a Itália.
Dionísio sofria para respirar durante o sono por excesso de peso e foi submetido a práticas dolorosas para conseguir dormir. Felizmente, a medicina do sono evoluiu consideravelmente, especialmente a partir da década de 1960 com a implementação dos estudos de noite inteira e ninguém precisa se submeter mais a agulhadas para ter uma boa noite de sono.
O progresso na área permitiu o entendimento melhor de conhecimentos chave como o sono REM (Rapid Eye Movement - movimento rápido dos olhos), os movimentos anormais do sono e o uso de benzodiazepínicos (hipnóticos e ansiolíticos).
A compreensão mais profunda das anomalias do sono foi possível com a contribuição de outras áreas. A odontologia do sono, que investiga a conexão craniofacial e fisiológica com distúrbios respiratórios do sono, é uma especialidade em crescimento que contribui para diagnosticar e tratar com eficiência os distúrbios que atrapalham o sono.
A Clínica Blu, referência em tratamento dental em Brasília, preparou um conteúdo prático e completo com as principais informações sobre apneia obstrutiva do sono e como a odontologia pode ajudar a garantir o descanso merecido ao fim do dia.
Sono de baixa qualidade
Dois a cada três brasileiros dormem mal. O número é da pesquisa publicada na revista Sleep Epidemiology (Epidemiologia do Sono), realizada em 2020 com mais de 2.500 participantes.
No ano anterior, 2019, outra pesquisa da Associação Brasileira do Sono (ABS) encontrou dados parecidos. Cerca de 65% da população relatou não descansar plenamente ao dormir.
Os problemas na qualidade de sono podem ter origem na duração, nos estágios ou na regularidade.
Duração
A duração trata de quantas horas as pessoas dormem. Os especialistas recomendam entre 7 e 9 horas para um sono ideal. No entanto, a extensão do sono varia de pessoa para pessoa e alguns indivíduos podem precisar de um pouco mais ou um pouco menos de horas dormidas.
Mesmo com a variação, não é indicado dormir por mais de 10h ou menos de 6h. Há evidências de que o sono de curta ou de longa duração está associado ao desenvolvimento de graves problemas de saúde.
Estágios
O corpo humano passa por 4 a 6 ciclos de sono por noite, compostos por fases ou estágios. O sono REM é o mais profundo e promove sensação maior de descanso.
Alguns hábitos podem ajudar o corpo a se preparar para descansar plenamente no sono. Evitar telas pelo menos 2 horas antes de dormir, comer refeições mais leves à noite e manter uma rotina de exercícios são exemplos de práticas que auxiliam a estabelecer um sono mais profundo.
Regularidade
Por fim, a regularidade do sono trata da continuidade do sono. Isto é, quantas vezes a pessoa acorda ao longo da noite. Quem sofre de apneia obstrutiva do sono pode chegar a acordar mais de 100 vezes durante o sono.
A regularidade, então, interfere na duração do sono à medida que interrompe repetidamente o ciclo do sono. As interrupções nem sempre são percebidas pelo indivíduo, que logo volta a dormir, mas o prejuízo está feito. A pessoa vai acordar cansada.
Distúrbios do sono
Os distúrbios respiratórios do sono são recorrentes na sociedade contemporânea e causam prejuízos na capacidade de dormir adequadamente. Eles ocorrem por alterações cerebrais, por desregulação entre o sono e a vigília, por alterações respiratórias ou por transtornos do movimento.
Alguns exemplos comuns são insônia, apneia do sono, narcolepsia, bruxismo, sonambulismo ou síndrome das pernas inquietas.
A identificação dos transtornos é feita por profissionais capacitados que observam a qualidade do sono, os sintomas, as causas e encaminham para o tratamento adequado.
A odontologia do sono pode auxiliar no combate a alguns transtornos do sono, em especial os distúrbios causados por problemas respiratórios, como a apneia do sono.
Apneia obstrutiva do sono (AOS)
Apneia significa “suspensão momentânea da respiração”. Durante o sono, essa pausa é causada pelo bloqueio completo ou parcial do fluxo de ar nas vias respiratórias.
Com dificuldade em encontrar ar, o corpo faz mais esforço e a pessoa pode roncar alto ou emitir ruídos sufocados enquanto tenta respirar. Mas o ronco em si não é o maior dos problemas.
Na verdade, roncar é um sintoma da apneia, mas não é suficiente para caracterizar a doença. A obstrução das vias respiratórias pode ter origem em uma gripe ou crise de rinite, o que não configura um distúrbio permanente.
O ronco também é favorecido pelo consumo de bebidas alcoólicas, medicações sedativas e relaxantes musculares, pois esses itens aumentam a flacidez da musculatura da região da garganta.
Acreditava-se que a apneia do sono era um problema restrito a 2% da população. Porém, pesquisas da última década apontam que o distúrbio atinge uma a cada três pessoas.
Um desses estudos é a investigação do pesquisador Sergio Brasil Tufik sobre a evolução dos distúrbios do sono na população com base nos dados do Episono, um inquérito epidemiológico voltado para os distúrbios de sono. Apresentada em 2020 na Universidade Federal de São Paulo, a tese demonstrou o crescimento dos transtornos do sono ao longo dos anos.
Sintomas
O sintoma principal é o ronco frequente e alto. A redução de espaço para a passagem do fluxo de ar gera ruído na respiração, que acarreta no ronco ou na emissão de sons durante o sono.
As pausas respiratórias ainda podem terminar em engasgos, sensação de sufocamento, vocalizações ou breves despertares.
Em geral, os sintomas da apneia obstrutiva do sono são identificados por terceiros. Isso acontece porque as interrupções no sono são breves e, na maioria das vezes, imperceptíveis para quem sofre com elas.
Mesmo assim, a descontinuação é suficiente para impedir o sono profundo e reparador. Com isso, é comum sentir dor de cabeça ao acordar, cansaço e sonolência diurna, dificuldade para concentrar, perda de memória e irritabilidade.
A dificuldade de respirar no sono também pode deixar a boca seca ao despertar, devido à respiração oral, além de sono agitado e sudorese noturna, pelo aumento do esforço.
Causas
O principal fator de risco para a apneia do sono é o excesso de peso ou obesidade. Era o caso do exemplo citado no início do texto, Dionísio de Heracleia.
O excesso de gordura corporal se acumula nas paredes da traquéia e nos músculos da língua. Assim, há menos espaço para a passagem do ar e ocorre a obstrução das vias aéreas.
Apesar de ser mais comum em indivíduos com sobrepeso, o distúrbio também pode ocorrer em pessoas magras. Idade, gênero e histórico familiar são outros fatores que podem ser associados ao distúrbio.
As deformidades craniofaciais também podem causar a obstrução parcial das vias respiratórias. As que possuem maior impacto na respiração são as anormalidades mandibulares, como a micrognatia ou retrognatia.
Por fim, a hipertrofia de amígdalas ou adenóides, que são órgãos de defesa do organismo, podem ocasionar a apneia obstrutiva do sono. Essa condição ocorre principalmente em crianças.
Tratamentos com Odontologia do Sono
O primeiro passo para melhorar o seu sono é marcar uma consulta e fazer uma avaliação completa com um profissional capacitado.
O diagnóstico é feito em consulta com análise dos sintomas e do histórico de saúde detalhado do paciente. Se possível, o paciente pode ir acompanhado de familiares ou companheiro, pois essa pessoa pode ajudar a identificar os sintomas.
Os dentistas da área do sono trabalham de forma multidisciplinar para melhor tratarem cada caso.
O intervalo entre as pausas na respiração varia de pessoa para pessoa. A apneia do sono é classificada como leve, moderada ou grave a partir do índice de apneia e hipopneia (IAH), que é medido no exame de polissonografia.
Com a gravidade e as comorbidades reconhecidas, o profissional pode indicar o tratamento adequado ao paciente. As abordagens mais utilizadas são a conservadora, com o uso de aparelhos dentários, e a cirúrgica.
O tratamento conservador inclui adequação de hábitos alimentares e noturnos, instruções de posicionamento do corpo para dormir e fonoterapia.
O tratamento com aparelhos intraorais utilizam modelos de avanço mandibular e os dispositivos de retenção lingual. A intenção é abrir mais espaço para a passagem de ar.
Há ainda o tratamento cirúrgico para modificar os tecidos moles da faringe ou do esqueleto (maxila, mandíbula e hióide).
Dependendo do problema anatômico a ser resolvido e da gravidade do distúrbio do sono, mais de uma modalidade cirúrgica pode ser utilizada de forma conjunta.
Após o tratamento, o paciente se sentirá muito mais descansado ao dormir sem interrupções. Como benefícios relacionados, é possível citar melhora no humor, na disposição para exercícios e na manutenção de uma rotina saudável.
É comprovada a importância de um sono restaurador e reparador. A odontologia do sono é capaz de proporcionar maior bem-estar a partir de tratamentos que melhoram a qualidade do sono.
Riscos à saúde
É durante o sono que o organismo exerce as principais funções restauradoras do corpo, como o reparo dos tecidos, o crescimento muscular e a síntese de proteínas.
Sem o descanso pleno, o organismo não se renova para exercer as tarefas cotidianas com eficiência. Além do cansaço recorrente e dificuldade de concentração, a privação de horas suficientes de sono aumenta o risco para doenças metabólicas e cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
A curta duração de sono também causa descontrole da glicemia e da leptina (hormônio da saciedade), contribuindo para o desenvolvimento de diabetes tipo II e obesidade.
O hábito de dormir menos de 6h ou mais de 10h por dia aumenta a chance de desenvolvimento da depressão e ansiedade.
Clínica Blu em Brasília
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